7 PANCs (Plantas Alimentícias Não-Convencionais) comuns no estado de São Paulo
A alimentação saudável tem se tornado um assunto cada vez mais em pauta. Desde a popularização dos orgânicos até a disseminação de dietas alternativas, é evidente que as pessoas estão cada vez mais interessadas em entender o que estão comendo e em buscar melhorar a sua qualidade de vida através de uma dieta melhor.
Nesse contexto surge um interesse cada vez maior nas PANCs, sigla que serve como abreviação do termo “Plantas Alimentícias Não-Convencionais”. Como diz o nome, o termo é usado para designar plantas cujo uso como alimento não é amplamente disseminado. Apesar disso, grande parte das PANCs é conhecida regionalmente em lugares onde o seu uso é disseminado.
Atualmente, conhecemos cerca de 20,000 espécies de plantas comestíveis. Apesar disso 90% da alimentação no mundo provém de menos de 20 plantas, o que indica um aproveitamento baixíssimo da variedade de plantas disponíveis.
As PANCs nos fornecem uma oportunidade de diversificar a nossa dieta com plantas que além de nutritivas são muitas vezes deliciosas também. Isso sem contar a satisfação de comer um alimento fresco que você mesmo colheu. Várias delas também tem propriedades medicinais valiosas, e podem ser muito úteis no tratamento de doenças e mal-estares comuns.
Ainda por cima, praticamente todos os lugares estão cheios de PANCs que podem ser aproveitadas bastando que se saiba identifica-las. Grande parte delas crescem espontaneamente e em grandes quantidades, e muitas são até consideradas como “pragas” por aqueles que não conhecem os seus usos. Você provavelmente passa por várias PANCs toda vez que faz uma caminhada, mesmo que esteja em uma cidade grande.
No começo, pode parecer desafiador aprender a identificar plantas, mas colher PANC’s é mais simples que parece. Se você souber identificar duas ou três plantas que sejam comuns em sua região, já é possível encontra-las com facilidade. A partir daí você pode expandir o seu conhecimento e se aprofundar nesse mundo maravilhoso. Com esse objetivo, eu lhe apresento como ponto de partida 7 plantas comuns no Estado de São Paulo, que é a região com a qual tenho mais familiaridade. Se você é de outro estado, não deixe de ler, pois todas as plantas apresentadas aqui são facilmente encontradas pela maior parte do país.
Atenção: Evite colher plantas em um local onde haja excesso de poluição aérea ou onde o solo possa estar contaminado por esgoto, metais pesados ou resíduos tóxicos. Além do mais, certifique-se de que você sabe identificar a planta antes de pensar em consumi-la.
1: Caruru
O Caruru, também conhecido como Bredo, é uma planta incrível que pode ser encontrada por praticamente todo o estado, sendo considerada por muitos como uma planta invasora por crescer com facilidade e quantidade em diversas condições, bastando apenas que o local seja ensolarado. Apesar disso, a planta tem preferência por solos com nitrogênio. O caruru é da família Amaranthaceae, sendo um parente do amaranto cultivado pelos Incas.
Aqui no Brasil, as espécies mais comuns são o Amaranthus viridis L, o Amaranthus hybridus L (também conhecido como caruru-vermelho) e o Amaranthus spinosus L (conhecido também como caruru-espinhoso). Além de ser a variedade mais comum pelo estado de São Paulo (e a única que já provei), o viridis é também a mais recomendada para o consumo humano. As outras variedades citadas podem danificar o rim se consumidas em excesso.
Toda a planta é comestível, além de ser muito nutritiva. Ela contém altos teores de vitamina A, B1, B2 e C além de cálcio, ferro e potássio. As suas folhas podem ser consumidas de várias formas. Só não se deve consumir folhas cruas de caruru, que possuem saponinas, nitrato e ácido oxálico. Mas basta um cozimento para remover esses componentes. A minha forma preferida de comer caruru é fazendo um refogado, que lembra muito o espinafre.
O caruru também é uma planta com usos medicinais. O seu alto teor de cálcio faz com que o seu consumo seja uma ótima forma de combater a osteoporose e outras doenças ósseas. O chá feito a partir das folhas também pode ser usado para tratar infecções e limpar o fígado. Mas antes de preparar o chá é recomendado que se faça o branqueamento das folhas para eliminar componentes indesejáveis.
Além desses benefícios, é muito fácil plantar o caruru. Basta colocar algumas sementes em um vaso ou no solo, regar e esperar. Ele cresce com facilidade e não precisa de nenhum cuidado além de uma rega de vez em quando. Inclusive, não se deve adubar o caruru, pois ele pode transformar o adubo em componentes tóxicos.
2: Tanchagem
O nome tanchagem se refere a várias espécies do gênero plantago, todas elas comestíveis e medicinais. No Brasil o termo se refere a Plantago lanceolata e a Plantago major, que tem propriedades e usos muito parecidos. As duas são facilmente identificadas pelas folhas percorridas por nervuras e pela haste floral longa e ereta que se ergue a partir do meio da planta.
Além do mais, a tanchagem não tem caule, o que faz com que as folhas brotem diretamente do chão. A forma mais fácil de diferenciar as duas é pelo formato da folha, que é mais larga e arredondada no caso da major, enquanto a lanceolata possui uma folha mais fina em formato de lança, como sugere o nome.
Resistentes, as duas variedades crescem em praticamente qualquer local, tendo preferência por solos húmidos com boa iluminação. A tanchagem também gosta de solos compactados, o que fez com que indígenas da América do Norte apelidassem a Plantago major de “pé do homem branco”, pois a planta frequentemente crescia em solos que foram compactados pela passagem de carroças dos europeus.
No estado de São Paulo, a variedade mais comum é a lanceolata, que é também a variedade com a qual tenho mais familiaridade. Apesar de encontrá-la em diversos lugares, eu a vejo surgindo principalmente em áreas gramadas.
As folhas da tanchagem podem ser comidas em qualquer estágio, mas à medida que elas vão envelhecendo elas vão se tornando cada vez mais fibrosas. Há quem goste da sua textura quando elas estão levemente fibrosas, e me incluo entre essas pessoas. Mas a partir de um ponto a textura se torna desagradável. É possível escaldar as folhas e retirar as fibras da planta, mas é mais fácil colhê-la em um estágio em que ela esteja na textura ideal. Além do mais, onde se encontra uma planta, geralmente se encontram várias outras por perto em diferentes estágios de crescimento, o que facilita essa seleção.
A folha é extremamente nutritiva, sendo ricas em vitaminas E, A e K, além de cálcio e proteínas. Ela pode ser consumida crua ou preparada de várias formas, tendo um gosto suave e uma textura que depende do estágio em que a folha foi colhida. Por si só, ela não é uma planta particularmente gostosa, mas ela pode incrementar várias receitas, seja adicionando folhas a uma salada ou a um refogado de couve.
As flores da planta também são comestíveis, e dizem que têm gosto de cogumelo (ainda não tive o prazer de prová-las). Elas devem ser colhidas frescas, e podem ser desidratadas para serem usadas em outra ocasião.
Além de ótimo alimento, a tanchagem é uma poderosa planta medicinal, podendo ser usada de várias formas. As suas sementes ajudam a regular o intestino, e extratos dela podem ser encontrados em algumas farmácias.
A planta também tem propriedades anti-inflamatórias, antimicrobianas e analgésicas, podendo ser usada no tratamento de ferimentos, queimaduras e problemas de pele como a acne. O chá feito a partir dela também é um poderoso expectorante e digestivo, auxiliando no trato de problemas respiratórios e de estômago.
Essa variedade de usos combinada com a facilidade de encontrar e identificar a tanchagem torna ela uma das PANC’s mais interessantes para quem está começando a entrar nesse mundo. Ela ainda é fácil de plantar caso você queira ter algumas plantas frescas a sua disposição.
3: Buva
A buva é umas das plantas mais resistentes encontradas no Brasil, sendo capaz de crescer em praticamente qualquer clima e solo desde que haja sol. Ela é, inclusive, uma das plantas mais temidas por produtores rurais devido a resistência que ela desenvolveu a herbicidas, podendo gerar perdas de até 48% em culturas de trigo, milho e soja.
Aqui no Brasil há duas espécies de mais conhecidas, a Conyza bonariensis e a Conyza canadensis, as duas com aparência e gosto semelhantes. A buva é uma planta ereta que chega até um metro de comprimento, sendo facilmente reconhecida pelo formato de suas folhas. Altamente competitiva, a buva pode ser encontrada em diversos tipos de ambientes por todo o estado, desde pastos e campos até beiras de estradas e fendas no concreto.
As suas características que mais chamam atenção são o seu cheiro e gosto, que são bem marcantes. Além disso, variam de acordo com o tipo de solo e o clima no qual a planta está crescendo, podendo lembrar frutas cítricas, cravo ou mesmo rúcula e agrião. A única coisa que se mantém constante na buva é o seu gosto picante, que pode se faz notar mesmo quando ela é ingerida em pequenas quantidades.
Podendo ser consumida crua ou preparada de diversas maneiras, a buva se destaca como tempero devido ao seu gosto forte e único. Só não se recomenda que ela seja cozida ou refogada, pois ela tende a amargar. Também é recomendado que ela seja usada como complemento a outros alimentos, pois ela é forte demais para ser comida por si só.
A buva também tem um grande potencial como planta medicinal, possuindo propriedades vermífugas, diuréticas, vulnerárias, anti-hemorroidárias, antidiarreicas e antissifilíticas, além de ser boa para regular a ação do fígado. Finalmente, ela também é facílima de plantar, crescendo em praticamente qualquer ambiente sem a necessidade de nenhuma adubação ou preparação do solo.
4: Serralha
Planta nativa da Eurásia, a serralha conquistou o mundo, crescendo por grande parte do planeta. O nome “serralha” se refere a algumas espécies de plantas, sendo que a mais comum no estado de São Paulo é a Sochus oleraceus. Outra espécie relativamente fácil de encontrar é a Sochus asper, que também é comestível e que pode ser distinguida pelas folhas espinhosas.
Reconhecida pelo formato de suas folhas e pelas flores amarelas, a serralha pode ser facilmente confundida com o dente de leão, sendo quase impossível distingui-las quando a planta é jovem. Apesar disso, elas podem ser diferenciadas pela ausência de caule do dente de leão e pela serralha frequentemente possuir mais de uma flor por haste.
Extremamente comum por todo o estado, ela pode ser encontrada crescendo em muros, frestas no concreto, e em hortas, sendo considerada por muitos como uma planta daninha apesar de seus diversos usos.
Uma das características curiosas da serralha é que ela é uma das poucas plantas que é comestível apesar de soltar látex. Além de comestível ela também é nutritiva, sendo rica em cálcio, ferro e vitaminas A,B e C.
Podendo ser comida crua ou cozida e com um gosto levemente amargo que lembra a rúcula, a serralha pode ser usada em uma variedade de pratos, desde saladas e molhos até refogados. É recomendado que se coma as folhas mais jovens, pois além de menos amargas elas são mais macias.
A serralha também possui várias propriedades medicinais. O chá feito com as suas folhas ajuda no processo digestivo se tomado antes das refeições, além de facilitar o sono por possuir propriedades sedativas. Ela também serve como anti-inflamatório, e pode ser aplicada em ferimentos na forma de cataplasma. Como alimento, ela fortalece o sistema imunológico e combate o envelhecimento precoce. Com todas essas propriedades, a serralha é certamente uma planta que vale a pena conhecer.
5:Beldroegão
Planta pouco conhecida, mas fácil de encontrar, o beldroegão é uma das minhas folhas preferidas na salada. Seu nome científico é Talinum paniculatum, mas ela é conhecida por vários nomes populares como major gomes, caruru-manteiga e maria-gorda. Ela é reconhecida pelas suas folhas verdes, arredondadas e sedosas, assim como pelos seus belos arranjos florais que possuem pequenas flores rosas e cápsulas coloridas (geralmente vermelhas ou amarelas) que contém pequenas sementes pretas em seu interior.
Ela é ainda mais resistente do que a maior parte das plantas citadas aqui, podendo crescer em praticamente qualquer local. Ela cresce bem mesmo na sombra, e mesmo quando é apenas um broto consegue tolerar a seca. Apesar disso, ela prefere ambientes úmidos.
O diferencial da planta é a folha macia e suculenta. Ela pode ser consumida crua ou cozida, mas se destaca quando crua pelo seu sabor suave (que se perde em grande parte quando cozida) assim como pela sua textura. Ela também é altamente nutritiva, sendo uma das plantas com maior teor de cálcio e proteína, além de rica em ferro, manganês, magnésio e potássio. A raiz da planta também é comestível ao ser cozida, apesar de não ser muito saborosa.
Ela também tem diversos usos como planta medicinal. O cataplasma feito a partir de suas folhas pode ser usado para tratar infecções de pele, amolecer calo e cicatrizar feridas. As sementes são emenagogas, e as raízes diuréticas, servindo também para tratar infecções intestinais.
Para plantar o beldroegão, basta colher algumas cápsulas e espalhar as sementes em seu jardim ou em um vaso ou outro recipiente. Outra opção é multiplicar a planta por estacas, que pegam facilmente. Ao colher as folhas, não se preocupe em colher demais. Se a raiz for mantida, a planta se recupera e rebrota facilmente.
6: Dente de Leão
Poucos não conhecem o dente de leão. Quem nunca assoprou as suas sementes ao vento quando criança? Mas poucos sabem que o dente de leão é uma planta alimentícia que também possui poderosas propriedades medicinais. Conhecida cientificamente como Taraxacum officinale, a espécie mais comum é adaptada a climas temperados, sendo encontrada principalmente pela Europa e América do Norte. Apesar disso, a planta se espalhou pelo mundo, crescendo em grande parte do Brasil, sendo muito comum no estado de São Paulo.
Suas folhas tem um gosto mais amargo do que a rúcula, tornando-se mais amargas e menos macias à medida que a planta envelhece. Esse gosto é um sinal de que ela é uma rica em fitonutrientes, sendo muito mais nutritiva até mesmo do que plantas como a couve e o espinafre. Entre os nutrientes que se encontram nas folhas estão as vitaminas B e C, betacarotenos, potássio, flavonoides, ácido oleico e ácido linoleico.
Extremamente versáteis, as folhas podem ser consumidas cruas como salada ou usadas para preparar sucos verdes. Elas também podem ser cozidas, refogadas e usada na composição de farofas entre outras coisas. As flores podem ser utilizadas cruas ou fritas, além de serem usadas para fazer vinho de dente de leão. As raízes também são comestíveis quando cozidas, podendo ser usadas das mesmas formas que cenouras cozidas.
O dente de leão também tem vários usos medicinais devido as suas propriedades anti-inflamatórias. O consumo da planta também ajuda a regular o nível de açúcar no sangue e o funcionamento do fígado. Há também indícios que ela pode reduzir o colesterol e a pressão sanguínea, além de fortalecer o sistema imunológico.
7:Beldroega
A beldroega é uma das PANCs mais saborosas com a qual podemos nos deparar. De nome científico Portulaca oleracea, ela é conhecida pela América Latina como verdolaga. Apesar de ser, na minha experiência, um pouco mais difícil do que as outras plantas nessa lista de se encontrar, você pode achá-la em uma variedade de lugares inusitados, dando preferência a solos arenosos. A única coisa que a beldroega não suporta é encharcamento.
Reconhecida pelas suas folhas arredondadas e suculentas e pelo caule levemente avermelhado, a beldroega cresce rente ao chão se sozinha e para cima se ela está em meio a outras plantas. Ela também tem pequenas flores amareladas que se abrem apenas durante a manhã.
As suas folhas são deliciosas, além de terem uma textura diferenciada. Além disso, tanto o gosto e a textura variam ao longo do dia. As folhas amanhecem mais azedas e crocantes, se tornando mais macias e menos azedas ao longo do dia. Vale a pena prova-la em diferentes horários e descobrir qual é o “ponto” certo para você.
A folha pode ser comida crua ou cozida, podendo ser usada em uma variedade de pratos. Ela é ótima como salada, sendo também cada vez mais popular no preparo de sucos verdes. A beldroega também serve como vegetal e fica deliciosa em sopas. É possível também refoga-la, mas para isso é preciso colher uma quantidade grande de folhas, pois elas tendem a murchar e “desaparecer” durante o processo.
Além do mais, ela se destaca pelo seu valor nutricional, sendo uma ótima fonte de vitamina A, B e C, além de ferro, magnésio, cálcio e potássio. A beldroega também é rica em antioxidantes. Mas a característica nutricional mais diferenciada da planta é a presença de mais ômega-3 do que qualquer outra planta folhosa, o que a torna uma ótima opção para combater doenças cardíacas. Com todas essas qualidades, a beldroega é uma planta diferenciada. Não deixe de prova-la se você tiver a oportunidade.